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domingo, 2 de janeiro de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1


Semana passada fui conferir pela segunda vez Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 1 antes de fechar o ano. Temi que com esse sétimo episódio da saga Potter, eu me impressionasse de cara e depois me desse conta que não era tudo aquilo, como já aconteceu antes. Pois bem, vi e revi e o filme é deveras bom.

Como adaptar livros não é tarefa fácil pelo tempo hábil que se tem em prender o público na cadeira, dividir a última parte em duas foi a melhor decisão e talvez o segredo de seu sucesso fora do círculo fanático. O filme é paciente mas não chega a causar incômodo. Seria essa a melhor fotografia (assinada pelo português Eduardo Serra) ou a de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (de longe o capítulo de melhor apuro visual chefiado por Alfonso Cuarón)? Aqui a casa dos Weasley lembra os frames de Days Of Heaven, de Terrence Malick, uma coisa incrível. Não posso deixar de falar do mau aproveitamento que Yates fez com o elenco fazendo até a linda Emma Watson soar insossa por vezes (niguém executa o Obliviate com mais beleza).

Cresci com a série, nunca li os livros, nunca escrevi sobre um dos filmes antes e pra mim vai deixar saudade. Como foi tudo rodado de uma só vez, imagino que a segunda parte terá o mesmo calibre. Não vejo a hora.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Notas_

Julie & Julia (2009) Nora Ephron

Baseado em dois livros, Julie & Julia é adorável e cansativo. Sua duração é excessiva e salva-se a trilha de Desplat, que apesar de óbvia é agradével. Julie é uma jovem vivente do início da década passada que assim como Julia dos anos 50, usa a culinária como válvula de escape. Ao acompanhar paralelamente a vida dessas duas figuras é impossível não se identificar mais com uma e achar a outra aguada. Pela primeira vez, o exercício de sotaques da Maryl Streep irritou-me.

» Avaliação: 6.5

Budapeste (2009) Walter Carvalho

Leonardo Medeiros tem que tomar vergonha na cara e nunca mais se envolver em telenovela, que para um ator de seu calibre é pecado mortal. É ele quem salva Budapeste do pior, baseado na obra de Chico Buarque, filme poético e complicado e também um absurdo exercício metalinguístico. Não é ruim, longe disso, mas a história de um homem que pra fugir do passado se reconstrói em outra língua meio que carece de uma montagem mais coerente.

» Avaliação: 5.5

A Pequena Jerusalém (2005) Karin Albou

Drama sério de temática tripla (filosofia, religião e sexo), La Petite Jerusalem é longa francês ganhador do prêmio de melhor roteiro em Cannes. Laura, estudante de filosofia e adepta às doutrinas de Kant começa a causar desconforto na família judia ortodoxa. Mathilde, sua irmã mais velha, enfrenta o demônio da infidelidade do marido e para salvar seu casamento terá de passar por cima de seus limites sexuais. Mesmo seguindo um ritmo lentíssimo a todo o tempo, a direção da estreante Karin Albou consegue prender a atenção.

» Avaliação: 7.0

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Little Manhattan (2005) Mark Levin



Hoje assisti, despretensiosamente, a Little Manhattan (Abc do Amor, se prefrir o horroroso título brasileiro) na Globo. O filme não sai da minha cabeça. Todo mundo que esteja com disposição e entenda um pouquinho de cinema acha lindo (na cotação do IMDB, mais de 5.000 votos garantiram uma média de 7.6/10) e o filme é deveras muito bonito, pés no chão e com uma banda sonora linda demais. Vai de Elvis Presley a Etta James.


01 Only the Strong Survive - Elvis Presley
02 Birdland - Weather Report
03 Kung Fu Fighting - Carl Douglas
04 Younger Yesterday - The Meadows
05 Map Of My Heart - Chad Fischer
06 Lonely Road - Everlast
07 The Very Thought of You - Nat King Cole
08 Love - Matt White
09 At Last - Etta James
10 Love Grows - Freedy Johnston
11 In My Life - Matthew Scannell

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Resenha: Melodia Infiel (1986) Alain Resnais

Pra início de conversa Resnais é um grande intelectual. Uma versão mais limpa e delicada de Eric Rohmer. Melodia Infiel (também conhecido como Melô) é o filme mais constrastante de sua elogiada filmografia, partindo do melodrama para criar um obra que proporciona experiência impressionante. Na década de 20, um triângulo amoroso fatal abala Paris. Marcel, um famoso violinista, se apaixona pela estilista Romaine, esposa de seu grande amigo Pierre.

A grande sacada de Resnais é jogar com o sutil e o extravagante ao mesmo tempo. No início, a infidelidade se dá por meio da música. Romaine seduz Pierre ao som de seu piano enquanto ele a acompanha no violino. Nada acontece nesse primeiro encontro, mas fica claro que aconteceu alí o primeiro ato infiel. Num bar à noite, Romaine já coçando por Marcel o convida para dançar tango e assim estar em seus braços. Cenas depois, vemos que os amantes já não vivem mais um sem o outro e as extravagantes encenações de Romaine explodem na tela. Uma choradeira sem fim, embebida de boa música e fotografia triunfante.

No início do filme, quando o triângulo se forma implicitamente explícito, Resnais desfia uma longa conversa sobre arte, seguida de uma igualmente longa e lenta descrição do passado sem sorte no amor de Marcel. É alí que Romaine se apaixona, ao ver o rapaz choramingar a tragédia de sua vida ao amar uma bela vagabunda. Ora pois, Romaine também era uma bela vagabunda (e ela mesma sabe disso).

Baseado numa peça teatral inglesa, Melodia Infiel segue essa estrutura, com cenografia falsa (e encantadora) e montagem simples. Faz parte dos considerados anos difíceis da filmografia de Resnais, que teve uma baixa de produção, mas nunca de qualidade. O explêndido "Meu Tio da América" é fruto desses anos. "Hiroshima, Mon Amour" que carrega o sumo concentrado de Resnais permanece vivo na minha memória até hoje. Inesquecível a história da adolescente francesa e seu amante japonês em plena Segunda Guerra. De uma beleza incopiável.

Resnais não faz o Bergman. Se acha que a qualidade de produção cinematrogáfica não anda boa, dá um jeito de mudar a situação dirigindo suas pérolas até hoje. "Vous n'avez encore rien vu" está em pré-produção.

» Avaliação: 8.0

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

10 Versões Japonesas.

As versões japonesas dos cartazes estrangeiros do cinema sempre me impressionaram. Designs inspirados, belíssimos e cheios de informação. Dei o primeiro lugar a Uma Noite Alucinante III por questão de criatividade, mas meu preferido é Blow-Up.

» 01° Uma Noite Alucinante III (1993) Sam Raimi

» 02° Blow-Up (1966) Michelangelo Antonioni

» 03° O Morro dos Ventos Uivantes (1970) Robert Fuest

» 04° O Demônio das Onze Horas (1965) Jean-Luc Godard

» 05° Across The Universe (2007) Julie Taymor

» 06° Blade Runner (1982) Ridley Scott

» 07° A Primeira Noite de Um Homem (1967) Mike Nichols

» 08° Os Ritos Satânicos de Drácula (1973) Alan Gibson

» 09° Casablanca (1942) Michael Curtiz

» 10° Rififi (1955) Jules Dassin

Depois verei se faço um ranking desses com capas de discos.

Resenha: Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois (1962) François Truffaut

(um dos cartazes de cinema mais lindos, ever)


No post abaixo eu disse que François Truffaut era o mais cômico da Nouvelle Vague e esqueci de acrescentar ser ele também o mais romântico. O diretor estendeu a história de Antoine Doinel em 4 filmes (3 longas e 1 curta) que tentam resolver a vida amorosa do personagem. Em "A Mulher do Lado", intenso filme sobre relações amorosas, Truffaut criou a que pra mim é uma das mais belas sequências do cinema (ele entre as coxas dela, o cheiro de pólvora e o batom vermelho, no fim do filme).

Nascido do romance semi-autobiográfico de Henri-Pierre Roché, Jules e Jim começou em 1955 quando Truffaut era crítico de cinema. Ele leu esse romance e ficou fascinado, até seis anos mais tarde filmar o que seria um manual da nova linguagem cinematográfica.

Jules e Jim é um clássico absoluto; seja por seus manejos inventivos de fade out e cenas pausadas, seja pela narrativa ligeira e suave ou pelos diálogos perfeitos que junto à narração em off nos conta a história da amizade entre dois aspirantes a escritores: o tímido austríaco Jules e o francês boa vida Jim. Ambos se apaixonam pela mesma garota, a impetuosa e imprevisível Catherine. Creio que seja uma dolorosa revelação sobre os efeitos do tempo em uma relação. O amor tão difícil de explicar, por vezes rotulado de louco por quem vê de fora.

É um filme tão importante para a história do cinema que influenciou e inspirou o que pôde e o que não pôde desde seu lançamento, de nome de banda e recriação de cena em clipe musical a letra de famosas canções e episódios de séries da atualidade.

Do cast não há o que reclamar: Oskar Werner, Henri Serre e Jeanne Moreau irrepreensíveis em seus encantadores personagens. É interessante quando um personagem beira o icônico, como Catherine, de vontades absurdas e personalidade instável, causando grande empatia no público que não sabe se presta atenção na narração rápida, no que acontece na tela entre o trio de amantes ou só em Catherine que rouba todas as cenas em que dá o ar da graça.

A música de Jules e Jim está entre as 10 melhores do cinema na lista "All Times 100 Movies" da Revista Time. Os acordes casam tão perfeitamente com o filme que vira tudo uma coisa só (aliás, Jules e Jim é isso, muita informação de uma vez só), impresso em fotografia romântica de Raoul Coutard (responsável pela boniteza visual de Pierrot Le Fou, de Godard).

Já achei quem diga o contrário. Aos 81 anos pesando nas costas, Roché assistiu e aprovou a adaptação na época do lançamento, o que só reforça a recomendação.

» Avaliação: 10.0

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sexo Por Compaixão (2000) Laura Mañá


"Nunca ouvi falar!"
"Leva, você vai gostar!"

Foi assim que começou. Um amigo me empurrou esse filme espanhol dirigido por Laura Mañá e eu meio caí de gaiato na parada. Gostei do título e demorei um século para assistir. Diz respeito a uma fábula muito louca sobre bondade. Dolores é praticamente uma santa (elas são as piores) em sua aldeia. Só faz o bem. Seu idolatrado marido Manolo a abandona por não aguentar mais esse excesso de bondade. Dolores vai se confessar religiosamente (desculpe o trocadilho) e aparentemente não tem pecados. O padre do lugar, praticamente a incita a procurar em que pecar e num gesto incontrolável de bondade aceita ajudar a um sujeito traído pela esposa. Como? Retribuindo o chifre. Daí por diante ela vai virar puta, dando pra qualquer um que apareça dizendo estar com problemas (o marido mesmo diz: "Quando não é santa é puta!").

Em uma cena hilária, um sujeito chega e diz: "Sou um desgraçado. Tenho 40 anos e sou virgem. Sou virgem pois sou egoísta. Nunca gostei da idéia de alguém gozar às minhas custas." Aí você se pergunta, o que tem de errado nisso? Ela não continua fazendo o bem? Pois isso também a incomoda e então Dolores resolve negar um pedido, não ajudando ao próximo e assim alcançando o tão sonhado ato pecaminoso.

No início eu estava achando tudo muito bonito, caminhando para obra-prima até que tudo se perde, afunda em sentimentalismo barato e furos de lógica. As coisas começam a não fazer mais sentido e mesmo o longa sendo baseado num argumento já descabido, não desce. A fábula não se decide em feminista e preconceituosa e coadjuvantes roubam a cena todo o tempo. Enfim, do meio pra lá, nada dá certo. O conflito do padre é o melhor que há, com seu sentimento de posição religiosa usurpada.

A fotografia inspirada no neo-realismo usa o preto-e-branco para traduzir a condição dos habitantes do vilarejo, o próprio meio que representando um reino de tristeza (é... hoje o preto-e-branco é usado pra isso). No momento oportuno se torna colorido e depois volta ao branco no preto. Sexo por Compaixão ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Málaga e sinceramente não recomendo. Um filme pela metade não vale de nada.

» Avaliação: 4.0

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ficadica: Elvira Madigan (1967) Bo Winderberg

O melhor romance de todos tempos. Obra-prima absoluta cheia de simbolismos e cenas clássicas regada à trilha antológica de Mozart.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Resenha: Monika e o Desejo (1952) Ingmar Bergman

Grande prazer da minha vida é contemplar um filme de Ingmar Bergman. Não pisou e nunca pisará na Terra diretor mais formidável. Jamais. Acho que poderia morrer feliz nesse momento, aqui, escrevendo sobre Bergman e ouvindo Ella Fitzgerald.

Considero Monika e o Desejo (no original é Um Verão Com Monika) uma versão pessimista e amarga de "Juventude", filme anterior do diretor com a mesma temática. Em Juventude, seu filme mais bonito, o gênio sueco conta a história de uma bailarina que retorna às suas memórias e visita o melhor verão de sua vida passado ao lado de seu amor perdido. Em Monika e o Desejo, Bergman só tinha uma idéia e algumas páginas de um roteiro que contava a bela história de um casal formado por dois jovens num verão na Suécia. Ela, Monika, é impetuosa como o mar, de fases como a lua e a sexualidade em pessoa. Monika é o destino frágil de Harry, enquanto Harry é o amor de verão de Monika. A paixão cresce e floresce, mas a inconsequência típica da mocidade os leva a um rumo opressor e é aí que entra o famoso pessimismo de Bergman, transformando seu filme em algo diferente de tudo o que já vi. O verão acaba, e com ele, o amor. É triste, mas é assim que a banda toca com a arredia Monika.

Considerado pelo próprio diretor um de seus mais simples e preferidos filmes (quanta modéstia), a película pode ser considerada absolutamente vanguardista e polêmica até os dias de hoje. Quanta beleza Bergman imprimiu através da fotografia em preto e branco de Gunnar Fischer, produzida nos anos 50, sua fase mais romântica e masoquista dedicada a juventude e suas relações amorosas (logo depois veio o amargo e brilhante Noites de Circo), que foi substituída por uma fase radical na década seguinte, quando filmou o espetacular "Persona" e a trilogia do silêncio. Todos os superlativos são poucos para descrever o gênio e suas obras.

Godard, fã do diretor afirma que Monika e o Desejo é um precursor de "...E Deus Criou a Mulher" de Roger Vadim, contudo prefiro discordar. Primeiro que não há semelhanças roteirísticas entre eles e segundo que o filme de Vadim é por demais vulgar por Brigitte Bardot (não que seja ruim).

Falar dessa pérola e não comentar seu final é fingir que não aconteceu, mas ele está lá e é duro de engolir, pra não dizer injusto e me atrever a contestar a vontade do mestre. No fim, só resta a memória, fazendo-me lembrar de uma frase de minha adolescência:
"o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível."

» Avaliação: 8.0

sábado, 10 de julho de 2010

Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010) Matthew Voughn

Matthew Vaughn deixou a modéstia de lado (o pouco que lhe restava) para filmar com os próprios custos o melhor filme de super-heróis desde Spider-Man (tem The Dark Knight também, mas é reinvenção, não conta). Sim, porque Wacthman foi uma lástima e apesar de Iron-Man ter sido uma grata surpresa da Marvel, Kick-Ass é ousado e arrojado, mas não se anime, nunca inventivo.

Depois de ser rejeitado pelos estúdios (tenho minhas desconfianças que isso é puro marketing), Matthew financiou o próprio grandioso projeto baseado na obra de Mark Millar que se tornou a sensação em terras estrangeiras. No Brasil, não foi a mesma coisa, talvez porque a platéia tupiniquim não se espanta com palavrões ou cenas bizarras. Violência choca gringo, que não sabe sambar e acredita em seus heroís, o que tira um pouco o brilho do filme que tenta ser sério antes hora, moldando heróis que seu argumento desmente.

Dave é mais um no mundo, como o próprio se descreve em narração off. Seus dois únicos amigos, Marty e Todd, idem. Nerds virgens que vivem por falta de opção e levam a vida devorando gibis. Um dia, Dave dá a louca e resolve ser heroí, assim, do nada. Compra uma fantasia na internet, vai à luta e apanha, claro, já que não vivemos em um universo paralelo. Ele se auto denomina Kick-Ass. Tudo vai bem, até que as coisas começam a ganhar contornos mais sérios e o filme quase afunda. Nicholas Cage, firme no propósito de aumentar sua coleção, encara mais um papel babaca e Christopher Mintz-Plasse um personagem indigetso (Red Mist), mas necessário para a amarração do roteiro. Perdoado.

Kick-Ass, o personagem, caminha sem ascenção na trama. Se apaixona, claro, por uma garota que acha que ele é gay (a música tema é do Mika!) e Matthew Voughn, sacana que só ele, faz o personagem entrar na dança. As referências a heróis do passado são inteligentes e a coisa começa a melhorar até que aparece Hit Girl, a única coisa chocante do filme (sem ela, Kick-Ass não existiria). Uma garotinha de aproximadamente 11 anos que quebra tudo, solta uma porrada de palavrões e desafia a gravidade. Começa a diversão que é interrompida vez ou outra por suas falhas até chegar em seus 40 maravilhosos minutos finais que impressionam pela capacidade de salvar tudo. As convicções sobre o que foi assistido até alí começam a mudar e somos embrulhados pela trilha genial e irônica do trio Ilan Eshkeri, Henry Jackman e John Murphy (excelente trabalho, não me canso de elogiar).

Kick-Ass é um filme de caráter irreprochável e honesto que comete erros bobos, perdoáveis. Cenas de ação carregadas do que chamam hoje em dia de anarquismo e uma mistura estética de filme B e graphic novel (o tom está corrretíssimo). Puro entretenimento que contém uma mensagem linda sobre responsabilidade (ajoelhou, tem que rezar) e depois de um final tão bom, acho que uma revisão discipa os tropeços.


» Avaliação: 8.0

sábado, 3 de julho de 2010

Resenha: Ondine (2009) Neil Jordan


Vez ou outra, o diretor Neil Jordan é atacado pela crítica quando engata em um filme comercial. É bem verdade que ele é um diretor intimista que se perde ao tentar vôos mais altos, mas seus filmes comerciais têm o que falta em uma porrada de grandes produções: honestidade. Meu filme preferido do diretor, ironicamente foi o último a que assisti, The Crying Games, e eu até tenho certo carinho por algumas de suas obras esculachadas como Lance de Sorte e Entrevista Com o Vampiro.

Valente, o trabalho anterior, é sua grande bola fora e Ondine veio para corrigir isso. Ao narrar a história de um pescador (Syracuse, Colin Farrel) que pesca uma mulher misteriosa e acaba por acreditar ela ser fruto de sua imaginação, Jordan alcança remição. A filha do protagonista, que sofre de insuficiência renal, acredita que a moça é uma Selkie; criatura aquática meio foca, meio mulher; que é fruto da mitologia irlandesa/escocesa. A vida do cara dá uma sacudida, vida essa nada fácil como de costume nos personagens de Jordan. Essa novidade ao mesmo tempo que lhe traz um renovo, lhe embaralha as idéias. Há 2 anos está longe do alcoolismo, ainda tem que aturar um passado de perdas sofridas.

Mais uma vez a paixão do diretor pela água fala mais alto. Muita água permeia o longa com ares de contos de fada (deixa
A Dama na Água de Shyamalan no chinelo). Há citações interessantes de A Branca de Neve e Alice no País das Maravilhas, fazendo tudo se intrincar. Rodado nas paisagens estonteantes e frias da Irlanda (fotografia colírio de Christopher Doyle), terra natal de Jordan, o roteiro escrito por ele próprio se perde um pouco na dissolução do mistério no fim do filme, mas nada que apague o brilho do mesmo.

Assim como no balé de três atos do The Royal Ballet; Ondine, o filme; anda lado a lado com a trilha sonora. Quando Frederick Ashton adaptou o conto mitológico para a dança, em 1958 chamou Hans Werner que compôs uma trilha que é considerada moderna até hoje. Neil Jordan chamou
Kjartan Sveinsson e o resultado é plenamente satisfatório. Achei fantástica. Tanto o balé quanto o filme são inspirados no romance "Undine" de Friedrich de La Motte Fouqué. E como não se pode deixar de elogiar as irretocáveis perfomances de todo o elenco, Colin Farrel, que não fica bem de cabelos grandes, foi a escolha certa, com seu sotaque carregadíssimo, para transformar este filme em uma boa surpresa.

No fim, depois de citações literárias de contos fadas, simbologias, muita água e mistério, tem-se o toque de Jordan, que soa brilhante, mas furado (eu escolhi engolir seco). O filme ainda não estreou no Brasil e a Imagem filmes não tem data prevista.

» Avaliação: 8.0

terça-feira, 8 de junho de 2010

Resenha: O Céu de Suely (2006) Karin Aïnouz



O filme do arquiteto cearense Karin Aïnouz, estrelado por Hermila Guedes, atriz pernambucana de alto calibre que também fez outro excelente filme, Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, conta com profunda tristeza a história de Hermila, uma garota que volta à cidade natal Iguatu, no Ceará, depois de ter tentado a vida em São Paulo com o namorado. Ele não volta, a abandona com um filho de colo, no calor escaldante de Iguatu, morando de favor na casa da avó e da tia. Seu refrigério são os braços de João, perdidamente apaixonado.

Tendo que se virar pra conseguir dinheiro, ela vende rifa e lava carro. A sensação de abandono não a deixa ser completamente feliz, nem João a faz esquecer isso. Em uma das cenas o filme nos mostra Hermila na beira da estrada procurando o brinco que perdeu enquanto andava de moto com João a caminho do motel. Ela o faz parar para procurar o objeto estapafúrdio perdido, demonstrando que não aceita fácil perder o que lhe pertence.

É lindo ver o leque de opções simbólicas disponíveis para entender o título que foi escolhido dias antes da estréia. É linda a cena que João vai atrás de Hermila para entender seu desprezo a ele. É extraordinário ver como o diretor conseguiu pontuar tão bem os acontecimentos chaves em um filme tão linear, de forma que o tom não mudasse (e a fotografia de Walter Carvalho só embeleza tudo). É lindo o filme inteiro, cada fotograma.

Premiadíssimo (melhor filme, diretor e atriz no Festival do Rio 2006), O Céu de Suely é um dos melhores filmes nacionais da década, representante da fase intimista de dramas particulares e/ou sociais no cinema nacional que nos últimos... sei lá, 2 anos, tem feito falta.

Como diz Jorge Furtado: "Quem diz que não gosta de cinema brasileiro tá falando besteira". O filme de Karin Aïnouz explica o por quê.

» Avaliação: 9.0

sábado, 29 de maio de 2010

Resenha: Maus Hábitos (1983) Pedro Almodóvar

Ingmar Bergman deveria ser canonizado (certeza que ele não iria gostar). São Bergman, protetor dos cinéfilos. Quem me conhece sabe que depois dele, Almodóvar é minha segunda paixão e o diretor espanhol já expressou sua admiração ao gênio sueco no incrível "De Salto Alto", onde ele chupa a idéia de "Sonata de Outono", filmaço de Bergman que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e o Oscar de melhor atriz para Ingrid Bergman.

Adoro quando Almodóvar se mete a criticar a religião (coisa que Bergman fez muito). Em "
Fale Com Ela", que deu ao diretor uma porrada de prêmios incluindo o Oscar de melhor roteiro orginal, ele escreveu uma de suas frases geniais: "Acendi umas velas, ter fé dá muito trabalho."

Nesse
Entre Tinieblas (algo como "Nas Trevas"), o diretor se debruça sobre o tema e mete o pau: uma cantora de puteiros procurada pela polícia depois da morte por overdose do namorado, se refugia num convento que cuida de jovens "perdidas" jogado às moscas (ninguém mais quer ser salvo) chamado "Redentoras Humilhadas". Como estamos falando de Almodóvar, bizarrices mil completam a trama: cada freira tem um nome chulo para demonstrar humildade (nomes do tipo Irmã Rata, Irmã Víbora, Irmã Esterco...). A Madre Superiora usa heroína e é sapatão (morre de tesão pela contora), outra escreve romances obcenos sob um pseudônimo, entre outros esculachos. As freiras também criam um tigre (!) domesticado que serve de metáfora para a situação das mesmas. Um emaranhado almodovariano de chocar qualquer liberal.

Feito na década de 80, o visual grunge e cafona estão lá, mas a música é espetucular. As atrizes fetiches do diretor também marcam presença,
Carmen Maura e Marisa Paredes sempre impecáveis. Maus Hábitos é um grande filme de Almodóvar que repetiu o tema de forma muito mais escancarada e refinada em "Má Educação" 21 anos depois.

Os tempos são outros. Hoje, o diretor já experiente (mas não menos venenoso) explora toda a sensibilidade do seu talento em obras como o fundamental "
Volver" e o maravilhoso e incompreendido "Abraços Partidos", seu último trabalho lançado.

Seja na comédia, no drama, na trama policial (ele sempre flerta com o noir), Almodóvar, autor, sempre redige roteiros inteligentes, afiados e sensíveis, mesmo que na prática ele dê umas escorregadas vez ou outra.

» Avaliação: 8.0

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Resenha: Conversas Com Meu Jardineiro (2007) Jean Becker

Faz uma cara que comprei Conversas Com Meu Jardineiro. Adoro filme francês e esse aqui prometia diálogos infindáveis (tenho uma queda por falatórios). Um pintor bem-sucedido, em crise no casamento, vai para casa abandonada dos pais falecidos em sua cidade natal, no interior da França. O velho regresso às origens inclui o reencontro casual com um velho amigo que se apresenta como jardineiro. Essa sinopse frágil se mostra eficiente na segunda metade do filme.

Tudo é muito simples e trivial. A direção de Jean Becker é natural e atuações idem. O que faz de Dialogue Avec Mon Jardinier um bom filme é a boa vontade do espectador, isso mesmo, depende de quão afim você está de ver um filme assim. O roteiro é cheio de diálogos compridos e bem escritos (nunca geniais), a fotografia é bem bonitinha e a música é de Giuseppe Verdi, Mozart e Christian Poulet. O ritmo é lento. A amizade entre os protagonistas, se você estiver disposto, toca fundo e tudo termina triste. Programa leve para cinéfilos.

» Avaliação: 7.0

terça-feira, 18 de maio de 2010

Resenha: Menino Maluquinho - O Filme (1994) Helvécio Ratton

Se existe uma fase na vida da gente que faz falta é a infância. A época da inocência, do tempo em que toda e qualquer preocupação era o medo de levar bronca dos pais, das brincadeiras incessantes e da rebeldia ao tempo. O tempo, é na base dele que Helvécio Ratton fez Menino Maluquinho - O Filme, baseado no livro ilustrativo infantil criado pelo cartunista Ziraldo na década de 80.

Maluquinho é uma criança esperta e sapeca que saboreia o que há de melhor na infância. No filme, não há um enredo, são apresentadas sucessivas artimanhas do garoto que vão dos pais que são chamados na escola, passando pelo divórcio dos mesmos e a perda de um ente querido.

Reprisado incansavelmente na finada (não é mais a mesma) Sessão da Tarde da TV Globo na década de 90 (o filme é de 94), Menino Maluquinho - O Filme é o retrato da infância da geração jovem de hoje. Samuel Costa, hoje publicitário, está muito bem no pepel título. O filme é uma graça, nostálgico, tocante e fiel ao universo que retrata. Como disse no início, o longa trata do tempo. Na infância ele é ignorado e é cruel, passa levando consigo o que jamais vai voltar. Na sequência mais significativa, Maluquinho em uma cena extraordinária para um filme infantil, dança com uma fada madrinha sobre um relógio gigante ao som de uma canção de ninar. É um sonho.

No fim, durante a euforia do torneio "internacional" de futebol o filme acaba e não se sabe que time ganhou. Não interessa. O narrador entra e diz: "...teve uma coisa que o menino não conseguiu segurar: o tempo. Aí, o tempo passou e como todo mundo, o Menino Maluquinho cresceu. Cresceu e virou um cara legal, o mesmo. E foi aí que todo mundo descobriu que ele não tinha sido um menino maluquinho, ele tinha sido um menino feliz."

Por mais que o tempo seja cruel levando o que não devolverá, nos trás algo novo e incrível e deixa como consolo a saudade e as boas lembranças. A música tema composta e interpretada por Milton Nascimento só reforça as estruturas de uma obra simples, despretenciosa, mas que atinge a excelência ao retratar a era de ouro de todos nós.

» Avaliação: 8.0

domingo, 16 de maio de 2010

Resenha: A Faca Na Água (1962) Roman Polański

O ano é 1962. O diretor, o francês Roman Polański. O filme, seu debut A Faca na Água, um exercício de manipulação e disputa humanas.

Num domingo qualquer, um casal vai velejar. De carro, a caminho ao cais dão carona a um jovem andarilho. O casal formado por autênticos burgueses resolvem levar o rapaz para a viagem ao mar. Começa então um jogo de disputa absurda e inconsciente entre os homens pela moça. O burguês, autoritário, desfila um wayfarer inacreditável de lindo e encontra no rapaz a insubordinação que ele não suporta. O rapaz, pássaro da liberdade, saiu de casa pra ganhar o mundo e leva consigo uma faca. O comportamento dos machos no filme é pra quem assiste, absurdamente irracional e primitivo. Vê-se claramente que um quer se mostrar mais que outro a fim de conquistar a fêmea, mas é óbvio que cada um é bom em algo que o outro não é. Coisas da vida. Cegos pela disputa eles levarão o filme a rumos sufocantes. Toda a manipulação do barco serve de metáfora para a situação.


Com estrutura de suspense, Polański desconstrói qualquer expectativa clichê do gênero, tornando o que seria uma premissa prolixa e rasa em um filme que vai do humor negro ao drama, passando por uma cena erótica deslumbrante e um final frustrante. A Faca na Água é uma estréia de mestre (Polański havia estudado cinema antes), mas os deslumbres de marinheiro de primeira viagem também estão lá, como alguns gracejos descartáveis de enquadramentos.


Para cortar custos, o diretor fez a escolha chave do sucesso do filme: apenas três personagens. As boas escolhas passam ainda pelo ótimo aproveitamento de espaços sempre filmados a partir de uma fotografia brilhante de Jerzy Lipman. Os movimentos de câmera também são um show à parte como o que o rapaz anda sobre as águas. Genial.


A Faca na Água por fim se firma como um filme essencial e inventivo que foi lançado pela Criterion em 2003 com um curioso pedido do diretor: as funções back and foward (avançar e retroceder) seriam desativadas. Só é possível pular os capítulos. Conhecida por sua excelência, a distribuidora recebe críticas negativas até hoje pela edição falha do filme (que inclui ainda problemas na legendagem). Quanto ao pedido do diretor, vai entender.


» Avaliação: 8.0

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Resenha: A Primeira Noite de Tranquilidade (1972) Valerio Zurlini


O penúltimo filme de Valerio Zurlini é uma tristeza que só. Muitos são os metros de seda que cinéfilos do mundo afora rasgam para La Prima Notte di Quiete, talvez por conta de um tema que essa turma adora: existencialismo (ou a falta dele).

No início dos anos 70, em plena tantas revoluções, Zurlini monta um espetáculo recluso dotado de tamanha melancolia que não poderia resultar em outra coisa, se não um grande filme. Alain Delon vive um poeta professor de literatura casado que se apaixona pela aluna mais linda da classe (do colégio, da Itália... Sonia Petrovna é estonteante) que namora com o cara mais rico da cidade e está envolvida em uma rede de prostituição.

Infeliz no casamento, o personagem de Delon vive um vazio de dar dó, atormentado pela falta de conteúdo que o rodeia, acha na aluna sua alma gêmea, uma garota introspectiva e triste. Todo esse roteiro minimalista, dramático e trágico é levado às telas através de uma fotografia gelada, sem vida e bela de Dario de Palma. Poucos fotógrafos conseguem atingir a paleta de cores soberbas que conversam harmoniosamente entre si durante todos os 125 minutos de reprodução da película. Daniele (personagem de Delon) passa todo o filme com um único figurino, barba sem fazer e fumando feito um desesperado (e ele está). Um time alto nível de coadjuvantes fecham o pacote dessa grande obra do cinema italiano. Não chega a ser irretocável, como muitos julgam, pelos seus clichês disfarçados com bons diálogos, mas vale cada centavo ou segundo gasto.


» Avaliação: 8.0