sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Notas_

Julie & Julia (2009) Nora Ephron

Baseado em dois livros, Julie & Julia é adorável e cansativo. Sua duração é excessiva e salva-se a trilha de Desplat, que apesar de óbvia é agradével. Julie é uma jovem vivente do início da década passada que assim como Julia dos anos 50, usa a culinária como válvula de escape. Ao acompanhar paralelamente a vida dessas duas figuras é impossível não se identificar mais com uma e achar a outra aguada. Pela primeira vez, o exercício de sotaques da Maryl Streep irritou-me.

» Avaliação: 6.5

Budapeste (2009) Walter Carvalho

Leonardo Medeiros tem que tomar vergonha na cara e nunca mais se envolver em telenovela, que para um ator de seu calibre é pecado mortal. É ele quem salva Budapeste do pior, baseado na obra de Chico Buarque, filme poético e complicado e também um absurdo exercício metalinguístico. Não é ruim, longe disso, mas a história de um homem que pra fugir do passado se reconstrói em outra língua meio que carece de uma montagem mais coerente.

» Avaliação: 5.5

A Pequena Jerusalém (2005) Karin Albou

Drama sério de temática tripla (filosofia, religião e sexo), La Petite Jerusalem é longa francês ganhador do prêmio de melhor roteiro em Cannes. Laura, estudante de filosofia e adepta às doutrinas de Kant começa a causar desconforto na família judia ortodoxa. Mathilde, sua irmã mais velha, enfrenta o demônio da infidelidade do marido e para salvar seu casamento terá de passar por cima de seus limites sexuais. Mesmo seguindo um ritmo lentíssimo a todo o tempo, a direção da estreante Karin Albou consegue prender a atenção.

» Avaliação: 7.0

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Little Manhattan (2005) Mark Levin



Hoje assisti, despretensiosamente, a Little Manhattan (Abc do Amor, se prefrir o horroroso título brasileiro) na Globo. O filme não sai da minha cabeça. Todo mundo que esteja com disposição e entenda um pouquinho de cinema acha lindo (na cotação do IMDB, mais de 5.000 votos garantiram uma média de 7.6/10) e o filme é deveras muito bonito, pés no chão e com uma banda sonora linda demais. Vai de Elvis Presley a Etta James.


01 Only the Strong Survive - Elvis Presley
02 Birdland - Weather Report
03 Kung Fu Fighting - Carl Douglas
04 Younger Yesterday - The Meadows
05 Map Of My Heart - Chad Fischer
06 Lonely Road - Everlast
07 The Very Thought of You - Nat King Cole
08 Love - Matt White
09 At Last - Etta James
10 Love Grows - Freedy Johnston
11 In My Life - Matthew Scannell

A fabulosa arte de Flamingo.

Não tem nada demais, mas é um luxo só.

Quanto ao CD, é um Brandon Flowers que fez a coisa certa. As músicas de Flamingo podem ter sido feitas para o The Killers, mas definitivamente não lhe pertencia. Do estofo ufanista de "Wellcome To Fabulous Las Vegas" à melodia IRRESISTÍVEL de "Swallow It", o disco de Flowers é o acontecimento musical do ano. Minha preferida é "Jilted Lovers & Broken Hearts" e de quebra, a edição de luxo traz generosas 4 faixas bônus. Para se lambuzar.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Resenha: Sky Sailing (2010) An Airplane Carried Me To Bed

Acho que quando Adam Young começou a fazer música lá em 2007 jamais imaginou que seu single "Fireflies" venderia horrores. O rapaz que sofria de insônia e passou a fabricar música de seu computador no porão de casa imprimiu isso em "I Live Alone" ("Eu tinha 22 anos, sozinho, sem nada para fazer, e eu não conseguia dormir..."), 9ª faixa de seu novo projeto Sky Sailing.

Owl City projetou Adam para o topo das paradas de música eletrônica dos Estados Unidos e manteve o rapaz em posição curiosamente estimável. Aliás, isso não parece não ter lhe afetado, dando uma pausa no projeto e engatando Sky Sailing, praticamente com a mesma vibe, porém menos cintilante. Adam produz pop afrescalhado, quase irresistível. Dia desses, estava vendo sua página no Last.fm e notei que uma de suas tags era "cute" (???). Daqui uns dias indie vira cute. Ok, o som é fofo.

Ao colocar An Airplane Carried Me To Bed pra tocar, a primeira canção é "Captains of the Sky" pra mostrar a que o disco veio: o projeto é mais orgânico, fortemente puxado para o acústico. O violão dá os primeiros acordes de "Brielle", triste e poética me lembrou um artigo que li sobre a carreira solo de Brandon Flowers, não me lembro onde agora, que apontava as composições de Flowers como música inteligente; complexa, mas acessível. O mesmo pode ser dito de Adam Young. Acho bacana a idéia de fazer de Umbrella Beach (do projeto Owl City) uma versão pop da parábola do filho pródigo. Aliás, Adam Young, como bom cristão, gosta de deixar claro seu partido, mas está a fim mesmo é de ganhar o mundo.

» Avaliação: 7.0

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Resenha: Melodia Infiel (1986) Alain Resnais

Pra início de conversa Resnais é um grande intelectual. Uma versão mais limpa e delicada de Eric Rohmer. Melodia Infiel (também conhecido como Melô) é o filme mais constrastante de sua elogiada filmografia, partindo do melodrama para criar um obra que proporciona experiência impressionante. Na década de 20, um triângulo amoroso fatal abala Paris. Marcel, um famoso violinista, se apaixona pela estilista Romaine, esposa de seu grande amigo Pierre.

A grande sacada de Resnais é jogar com o sutil e o extravagante ao mesmo tempo. No início, a infidelidade se dá por meio da música. Romaine seduz Pierre ao som de seu piano enquanto ele a acompanha no violino. Nada acontece nesse primeiro encontro, mas fica claro que aconteceu alí o primeiro ato infiel. Num bar à noite, Romaine já coçando por Marcel o convida para dançar tango e assim estar em seus braços. Cenas depois, vemos que os amantes já não vivem mais um sem o outro e as extravagantes encenações de Romaine explodem na tela. Uma choradeira sem fim, embebida de boa música e fotografia triunfante.

No início do filme, quando o triângulo se forma implicitamente explícito, Resnais desfia uma longa conversa sobre arte, seguida de uma igualmente longa e lenta descrição do passado sem sorte no amor de Marcel. É alí que Romaine se apaixona, ao ver o rapaz choramingar a tragédia de sua vida ao amar uma bela vagabunda. Ora pois, Romaine também era uma bela vagabunda (e ela mesma sabe disso).

Baseado numa peça teatral inglesa, Melodia Infiel segue essa estrutura, com cenografia falsa (e encantadora) e montagem simples. Faz parte dos considerados anos difíceis da filmografia de Resnais, que teve uma baixa de produção, mas nunca de qualidade. O explêndido "Meu Tio da América" é fruto desses anos. "Hiroshima, Mon Amour" que carrega o sumo concentrado de Resnais permanece vivo na minha memória até hoje. Inesquecível a história da adolescente francesa e seu amante japonês em plena Segunda Guerra. De uma beleza incopiável.

Resnais não faz o Bergman. Se acha que a qualidade de produção cinematrogáfica não anda boa, dá um jeito de mudar a situação dirigindo suas pérolas até hoje. "Vous n'avez encore rien vu" está em pré-produção.

» Avaliação: 8.0