sexta-feira, 16 de julho de 2010

Resenha: Monika e o Desejo (1952) Ingmar Bergman

Grande prazer da minha vida é contemplar um filme de Ingmar Bergman. Não pisou e nunca pisará na Terra diretor mais formidável. Jamais. Acho que poderia morrer feliz nesse momento, aqui, escrevendo sobre Bergman e ouvindo Ella Fitzgerald.

Considero Monika e o Desejo (no original é Um Verão Com Monika) uma versão pessimista e amarga de "Juventude", filme anterior do diretor com a mesma temática. Em Juventude, seu filme mais bonito, o gênio sueco conta a história de uma bailarina que retorna às suas memórias e visita o melhor verão de sua vida passado ao lado de seu amor perdido. Em Monika e o Desejo, Bergman só tinha uma idéia e algumas páginas de um roteiro que contava a bela história de um casal formado por dois jovens num verão na Suécia. Ela, Monika, é impetuosa como o mar, de fases como a lua e a sexualidade em pessoa. Monika é o destino frágil de Harry, enquanto Harry é o amor de verão de Monika. A paixão cresce e floresce, mas a inconsequência típica da mocidade os leva a um rumo opressor e é aí que entra o famoso pessimismo de Bergman, transformando seu filme em algo diferente de tudo o que já vi. O verão acaba, e com ele, o amor. É triste, mas é assim que a banda toca com a arredia Monika.

Considerado pelo próprio diretor um de seus mais simples e preferidos filmes (quanta modéstia), a película pode ser considerada absolutamente vanguardista e polêmica até os dias de hoje. Quanta beleza Bergman imprimiu através da fotografia em preto e branco de Gunnar Fischer, produzida nos anos 50, sua fase mais romântica e masoquista dedicada a juventude e suas relações amorosas (logo depois veio o amargo e brilhante Noites de Circo), que foi substituída por uma fase radical na década seguinte, quando filmou o espetacular "Persona" e a trilogia do silêncio. Todos os superlativos são poucos para descrever o gênio e suas obras.

Godard, fã do diretor afirma que Monika e o Desejo é um precursor de "...E Deus Criou a Mulher" de Roger Vadim, contudo prefiro discordar. Primeiro que não há semelhanças roteirísticas entre eles e segundo que o filme de Vadim é por demais vulgar por Brigitte Bardot (não que seja ruim).

Falar dessa pérola e não comentar seu final é fingir que não aconteceu, mas ele está lá e é duro de engolir, pra não dizer injusto e me atrever a contestar a vontade do mestre. No fim, só resta a memória, fazendo-me lembrar de uma frase de minha adolescência:
"o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível."

» Avaliação: 8.0

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