sábado, 29 de maio de 2010

Resenha: Maus Hábitos (1983) Pedro Almodóvar

Ingmar Bergman deveria ser canonizado (certeza que ele não iria gostar). São Bergman, protetor dos cinéfilos. Quem me conhece sabe que depois dele, Almodóvar é minha segunda paixão e o diretor espanhol já expressou sua admiração ao gênio sueco no incrível "De Salto Alto", onde ele chupa a idéia de "Sonata de Outono", filmaço de Bergman que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e o Oscar de melhor atriz para Ingrid Bergman.

Adoro quando Almodóvar se mete a criticar a religião (coisa que Bergman fez muito). Em "
Fale Com Ela", que deu ao diretor uma porrada de prêmios incluindo o Oscar de melhor roteiro orginal, ele escreveu uma de suas frases geniais: "Acendi umas velas, ter fé dá muito trabalho."

Nesse
Entre Tinieblas (algo como "Nas Trevas"), o diretor se debruça sobre o tema e mete o pau: uma cantora de puteiros procurada pela polícia depois da morte por overdose do namorado, se refugia num convento que cuida de jovens "perdidas" jogado às moscas (ninguém mais quer ser salvo) chamado "Redentoras Humilhadas". Como estamos falando de Almodóvar, bizarrices mil completam a trama: cada freira tem um nome chulo para demonstrar humildade (nomes do tipo Irmã Rata, Irmã Víbora, Irmã Esterco...). A Madre Superiora usa heroína e é sapatão (morre de tesão pela contora), outra escreve romances obcenos sob um pseudônimo, entre outros esculachos. As freiras também criam um tigre (!) domesticado que serve de metáfora para a situação das mesmas. Um emaranhado almodovariano de chocar qualquer liberal.

Feito na década de 80, o visual grunge e cafona estão lá, mas a música é espetucular. As atrizes fetiches do diretor também marcam presença,
Carmen Maura e Marisa Paredes sempre impecáveis. Maus Hábitos é um grande filme de Almodóvar que repetiu o tema de forma muito mais escancarada e refinada em "Má Educação" 21 anos depois.

Os tempos são outros. Hoje, o diretor já experiente (mas não menos venenoso) explora toda a sensibilidade do seu talento em obras como o fundamental "
Volver" e o maravilhoso e incompreendido "Abraços Partidos", seu último trabalho lançado.

Seja na comédia, no drama, na trama policial (ele sempre flerta com o noir), Almodóvar, autor, sempre redige roteiros inteligentes, afiados e sensíveis, mesmo que na prática ele dê umas escorregadas vez ou outra.

» Avaliação: 8.0

Um comentário:

Thiago Cavalcante disse...

Bom dia Danilo. Encontrei seu blog pelo google: estava procurando uma resenha sobre o filme 'Maus Hábitos', de Almodóvar. Não li apenas essa resenha por aqui - dei uma espiadela no seu blog de forma geral. Interessante saber que você faz/fez Letras e curte música gospel, além de se debruçar sobre o mundo cinematográfico. Gostei do que encontrei por aqui. Espero voltar mais vezes.
Tenha um ótimo final de semana: com paz, sempre.