quinta-feira, 26 de agosto de 2010

10 Versões Japonesas.

As versões japonesas dos cartazes estrangeiros do cinema sempre me impressionaram. Designs inspirados, belíssimos e cheios de informação. Dei o primeiro lugar a Uma Noite Alucinante III por questão de criatividade, mas meu preferido é Blow-Up.

» 01° Uma Noite Alucinante III (1993) Sam Raimi

» 02° Blow-Up (1966) Michelangelo Antonioni

» 03° O Morro dos Ventos Uivantes (1970) Robert Fuest

» 04° O Demônio das Onze Horas (1965) Jean-Luc Godard

» 05° Across The Universe (2007) Julie Taymor

» 06° Blade Runner (1982) Ridley Scott

» 07° A Primeira Noite de Um Homem (1967) Mike Nichols

» 08° Os Ritos Satânicos de Drácula (1973) Alan Gibson

» 09° Casablanca (1942) Michael Curtiz

» 10° Rififi (1955) Jules Dassin

Depois verei se faço um ranking desses com capas de discos.

Resenha: Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois (1962) François Truffaut

(um dos cartazes de cinema mais lindos, ever)


No post abaixo eu disse que François Truffaut era o mais cômico da Nouvelle Vague e esqueci de acrescentar ser ele também o mais romântico. O diretor estendeu a história de Antoine Doinel em 4 filmes (3 longas e 1 curta) que tentam resolver a vida amorosa do personagem. Em "A Mulher do Lado", intenso filme sobre relações amorosas, Truffaut criou a que pra mim é uma das mais belas sequências do cinema (ele entre as coxas dela, o cheiro de pólvora e o batom vermelho, no fim do filme).

Nascido do romance semi-autobiográfico de Henri-Pierre Roché, Jules e Jim começou em 1955 quando Truffaut era crítico de cinema. Ele leu esse romance e ficou fascinado, até seis anos mais tarde filmar o que seria um manual da nova linguagem cinematográfica.

Jules e Jim é um clássico absoluto; seja por seus manejos inventivos de fade out e cenas pausadas, seja pela narrativa ligeira e suave ou pelos diálogos perfeitos que junto à narração em off nos conta a história da amizade entre dois aspirantes a escritores: o tímido austríaco Jules e o francês boa vida Jim. Ambos se apaixonam pela mesma garota, a impetuosa e imprevisível Catherine. Creio que seja uma dolorosa revelação sobre os efeitos do tempo em uma relação. O amor tão difícil de explicar, por vezes rotulado de louco por quem vê de fora.

É um filme tão importante para a história do cinema que influenciou e inspirou o que pôde e o que não pôde desde seu lançamento, de nome de banda e recriação de cena em clipe musical a letra de famosas canções e episódios de séries da atualidade.

Do cast não há o que reclamar: Oskar Werner, Henri Serre e Jeanne Moreau irrepreensíveis em seus encantadores personagens. É interessante quando um personagem beira o icônico, como Catherine, de vontades absurdas e personalidade instável, causando grande empatia no público que não sabe se presta atenção na narração rápida, no que acontece na tela entre o trio de amantes ou só em Catherine que rouba todas as cenas em que dá o ar da graça.

A música de Jules e Jim está entre as 10 melhores do cinema na lista "All Times 100 Movies" da Revista Time. Os acordes casam tão perfeitamente com o filme que vira tudo uma coisa só (aliás, Jules e Jim é isso, muita informação de uma vez só), impresso em fotografia romântica de Raoul Coutard (responsável pela boniteza visual de Pierrot Le Fou, de Godard).

Já achei quem diga o contrário. Aos 81 anos pesando nas costas, Roché assistiu e aprovou a adaptação na época do lançamento, o que só reforça a recomendação.

» Avaliação: 10.0

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Resenha: De Repente, Num Domingo (1983) François Truffaut

Dos principais fundoadores da Nouvelle Vague francesa, Claude Chabrol é o mais interessante, Jean-Luc Godard é o mais afetado, Eric Rohmer é o mais intelectual e François Truffaut o mais cômico. Meu preferido é o último apesar da pouca oportunidade que tive de assistir às obras de todos. No debut de Truffaut "Os Incompreendidos", fica clara sua veia cômica que protubera nas cenas que envolvem Antoine e sua família. A tragédia se instala do filme, mas o comicidade não deixa maneirismos lacrimejantes aparecerem. Com o tempo, Truffaut se aprimorou e fez uma de suas grandes comédias, "Uma Jovem Tão Bela Como Eu", contando a história da piriguete Camille Bliss.

Nos anos 50 quando ainda escrevia para o Cahiers du Cinéma, Truffaut descobriu Alfred Hitchcock e se apaixonou pela poesia de suas imagens. Esse deslumbramento pelo mestre do suspense se estendeu aos demais fundadores da Nouvelle Vague. Truffaut seguiu a trilha dramática com seus personagens sentimentalmente perturbados até chegar em seu último filme (morreu em 84), uma de suas obras primas: De Repente, Num Domingo; inspirada nos filmes de Hitch e no noir que reinou nas décadas de 40 e 50.

Particularmente nunca fui chegado em noirs hollywoodianos e acho chato essa coisa de caça ao assassino. Adoro Hitchcock por deslocar a motivação do gênero para um segundo plano, de forma que o mais importante está em desenvolver seus personagens e manipular o espactador com o clima de supense. Não por acaso, na minha opinião o melhor Hicthcock é o sobrenatural "Os Pássaros". Meu noir preferido é "Pacto de Sangue", dirigido por Billy Wilder. Na trama, o assassino é revelado no início, me poupando da brincadeirinha de gato e rato.

Confesso que morri de rir com De Repente, Num Domingo, de forma a não me preocupar com a resolução do crime. Diálogos espertos e hilários, aliados a uma mise-en-scène exemplar de Truffaut é o que chamamos de paródia, mas uma paródia digna que narra a história do imobiliário Julien Vercel, acusado de matar o suposto amante de sua mulher. Jurando de pés juntos inocente, acaba por fugir da polícia para juntar evidências de sua suposta inocência. O curioso é que a protagonista é sua secretária Barbara Becker (Fanny Ardant, cacho do cineasta na época) que abre o filme numa sequência de rachar o bico. Ela se compadece do chefe e parte em busca das evidências, enquanto Julien se refugia da polícia na agência. Uma coisa única esse filme, de fotografia preto e branco em plena década de 80, fidelíssima à estética noir.

Enfim, um programão inteligente com ares de paródia sacana. E se for difícil achar em uma locadora próxima, o canal aberto Futura reprisa Vivement Dimanche! (Finalmente, Domingo! numa tradução mais livre) desde o ano da França no Brasil, onde homenageou o cineasta com a exibição de algumas de suas obras.

» Avaliação: 8.5

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Resenha: Two Door Cinema Club (2010) Tourist History



Importada da Irlanda, aquele país onde o povo fala inglês com sotaque que só grego entende, o Two Door Cinema Club ("Door" no singular mesmo, propositalmente) lançou o primeiro disco em fevereiro deste ano e só chegou aos meus conhecimentos há poucos meses, quando escutei o single "Something Good Can Work" num Lab da MTV, single este vibrante que junto a "I Can Talk" e "Undercover Martyn" foram lançados antes do disco sair por conta da grande hype televisiva em cima dos garotos. É de espantar tanta atenção a uma banda tão recente até na estrada da vida (formada em 2007), mas onde há fumaça, há fogo.

Causou frisson por onde passou e já vai estar esse ano no Planeta Terra aqui no Brasil. Sorte de quem vai e lasque-se quem não poderá ir (eu!), pois todo esse falatório tem fundamento. Two Door Cinema Club é apaixonante.

Desde Vampire Weekend não se via nada tão bacana e diferente sem ser tão estranho a ponto de cansar rápido. O disco é curto, com apenas 10 canções que farão toda a diferença. Dignas de trilha sonora para um "pé na estrada", enveredam pelas velhas melodias indie de uma forma completamente estilizada a um estilo próprio, xavecando o pop, o eletrônico, o axé e os sintetizadores.

Me fez lembrar da belezura lançada pelo Phoenix ano passado "Wolfgang Amadeus Phoenix". Nesse Tourist History encantei-me por "Do You Wanna It All", disparado a melhor.

Alex Trimble e banda resgatam a boa e velha miscelândia que se fazia no início da década como Strokes e Arctic Monkeys onde Julian Casablancas e Alex Turner faziam um rock diferente de tudo, misturando mundos e fundos e soando simplesmente agradável de se ouvir e prazeroso de se acompanhar. O indie rock hoje anda bem deprê em seus melôs e Two Door não foge à regra ao minuciar riffs ecoados e perfeitos (na verdade onde reside toda a graça desse tipo de banda, mesmo com tantos elementos agregados). Não preciso dizer que foi sucesso entre a crítica especializada e que recomendo quase que obrigatoriamente.

Obrigatoriamente. Sempre bom dizer mais uma vez...


» Avaliação: 9.0

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sexo Por Compaixão (2000) Laura Mañá


"Nunca ouvi falar!"
"Leva, você vai gostar!"

Foi assim que começou. Um amigo me empurrou esse filme espanhol dirigido por Laura Mañá e eu meio caí de gaiato na parada. Gostei do título e demorei um século para assistir. Diz respeito a uma fábula muito louca sobre bondade. Dolores é praticamente uma santa (elas são as piores) em sua aldeia. Só faz o bem. Seu idolatrado marido Manolo a abandona por não aguentar mais esse excesso de bondade. Dolores vai se confessar religiosamente (desculpe o trocadilho) e aparentemente não tem pecados. O padre do lugar, praticamente a incita a procurar em que pecar e num gesto incontrolável de bondade aceita ajudar a um sujeito traído pela esposa. Como? Retribuindo o chifre. Daí por diante ela vai virar puta, dando pra qualquer um que apareça dizendo estar com problemas (o marido mesmo diz: "Quando não é santa é puta!").

Em uma cena hilária, um sujeito chega e diz: "Sou um desgraçado. Tenho 40 anos e sou virgem. Sou virgem pois sou egoísta. Nunca gostei da idéia de alguém gozar às minhas custas." Aí você se pergunta, o que tem de errado nisso? Ela não continua fazendo o bem? Pois isso também a incomoda e então Dolores resolve negar um pedido, não ajudando ao próximo e assim alcançando o tão sonhado ato pecaminoso.

No início eu estava achando tudo muito bonito, caminhando para obra-prima até que tudo se perde, afunda em sentimentalismo barato e furos de lógica. As coisas começam a não fazer mais sentido e mesmo o longa sendo baseado num argumento já descabido, não desce. A fábula não se decide em feminista e preconceituosa e coadjuvantes roubam a cena todo o tempo. Enfim, do meio pra lá, nada dá certo. O conflito do padre é o melhor que há, com seu sentimento de posição religiosa usurpada.

A fotografia inspirada no neo-realismo usa o preto-e-branco para traduzir a condição dos habitantes do vilarejo, o próprio meio que representando um reino de tristeza (é... hoje o preto-e-branco é usado pra isso). No momento oportuno se torna colorido e depois volta ao branco no preto. Sexo por Compaixão ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Málaga e sinceramente não recomendo. Um filme pela metade não vale de nada.

» Avaliação: 4.0