domingo, 16 de maio de 2010

Resenha: A Faca Na Água (1962) Roman Polański

O ano é 1962. O diretor, o francês Roman Polański. O filme, seu debut A Faca na Água, um exercício de manipulação e disputa humanas.

Num domingo qualquer, um casal vai velejar. De carro, a caminho ao cais dão carona a um jovem andarilho. O casal formado por autênticos burgueses resolvem levar o rapaz para a viagem ao mar. Começa então um jogo de disputa absurda e inconsciente entre os homens pela moça. O burguês, autoritário, desfila um wayfarer inacreditável de lindo e encontra no rapaz a insubordinação que ele não suporta. O rapaz, pássaro da liberdade, saiu de casa pra ganhar o mundo e leva consigo uma faca. O comportamento dos machos no filme é pra quem assiste, absurdamente irracional e primitivo. Vê-se claramente que um quer se mostrar mais que outro a fim de conquistar a fêmea, mas é óbvio que cada um é bom em algo que o outro não é. Coisas da vida. Cegos pela disputa eles levarão o filme a rumos sufocantes. Toda a manipulação do barco serve de metáfora para a situação.


Com estrutura de suspense, Polański desconstrói qualquer expectativa clichê do gênero, tornando o que seria uma premissa prolixa e rasa em um filme que vai do humor negro ao drama, passando por uma cena erótica deslumbrante e um final frustrante. A Faca na Água é uma estréia de mestre (Polański havia estudado cinema antes), mas os deslumbres de marinheiro de primeira viagem também estão lá, como alguns gracejos descartáveis de enquadramentos.


Para cortar custos, o diretor fez a escolha chave do sucesso do filme: apenas três personagens. As boas escolhas passam ainda pelo ótimo aproveitamento de espaços sempre filmados a partir de uma fotografia brilhante de Jerzy Lipman. Os movimentos de câmera também são um show à parte como o que o rapaz anda sobre as águas. Genial.


A Faca na Água por fim se firma como um filme essencial e inventivo que foi lançado pela Criterion em 2003 com um curioso pedido do diretor: as funções back and foward (avançar e retroceder) seriam desativadas. Só é possível pular os capítulos. Conhecida por sua excelência, a distribuidora recebe críticas negativas até hoje pela edição falha do filme (que inclui ainda problemas na legendagem). Quanto ao pedido do diretor, vai entender.


» Avaliação: 8.0

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