quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Resenha: Melodia Infiel (1986) Alain Resnais

Pra início de conversa Resnais é um grande intelectual. Uma versão mais limpa e delicada de Eric Rohmer. Melodia Infiel (também conhecido como Melô) é o filme mais constrastante de sua elogiada filmografia, partindo do melodrama para criar um obra que proporciona experiência impressionante. Na década de 20, um triângulo amoroso fatal abala Paris. Marcel, um famoso violinista, se apaixona pela estilista Romaine, esposa de seu grande amigo Pierre.

A grande sacada de Resnais é jogar com o sutil e o extravagante ao mesmo tempo. No início, a infidelidade se dá por meio da música. Romaine seduz Pierre ao som de seu piano enquanto ele a acompanha no violino. Nada acontece nesse primeiro encontro, mas fica claro que aconteceu alí o primeiro ato infiel. Num bar à noite, Romaine já coçando por Marcel o convida para dançar tango e assim estar em seus braços. Cenas depois, vemos que os amantes já não vivem mais um sem o outro e as extravagantes encenações de Romaine explodem na tela. Uma choradeira sem fim, embebida de boa música e fotografia triunfante.

No início do filme, quando o triângulo se forma implicitamente explícito, Resnais desfia uma longa conversa sobre arte, seguida de uma igualmente longa e lenta descrição do passado sem sorte no amor de Marcel. É alí que Romaine se apaixona, ao ver o rapaz choramingar a tragédia de sua vida ao amar uma bela vagabunda. Ora pois, Romaine também era uma bela vagabunda (e ela mesma sabe disso).

Baseado numa peça teatral inglesa, Melodia Infiel segue essa estrutura, com cenografia falsa (e encantadora) e montagem simples. Faz parte dos considerados anos difíceis da filmografia de Resnais, que teve uma baixa de produção, mas nunca de qualidade. O explêndido "Meu Tio da América" é fruto desses anos. "Hiroshima, Mon Amour" que carrega o sumo concentrado de Resnais permanece vivo na minha memória até hoje. Inesquecível a história da adolescente francesa e seu amante japonês em plena Segunda Guerra. De uma beleza incopiável.

Resnais não faz o Bergman. Se acha que a qualidade de produção cinematrogáfica não anda boa, dá um jeito de mudar a situação dirigindo suas pérolas até hoje. "Vous n'avez encore rien vu" está em pré-produção.

» Avaliação: 8.0

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Sr Danilo Rocha:

Estive em seu blog, interessante!
Descobri-o ao procurar pelo filme mencionado, o MELODIA INFIEL... Confesso que soube da existência deste há poucas horas, olhando na revista da NET do atual mês! Imagino que seja um bom filme, pois gosto muito de COISAS ANTIGAS... Quando era menor, adorava assistir a filmes: até pensei em estudar PUBLICIDADE. De vez em quando, vejo no Youtube alguns filmes (e coisas antigas)...
É isso.

Abraços,
Rodrigo O Rosa (Porto Alegre)

http://rodrigo-arte.blogspot.com/
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