quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Resenha: Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois (1962) François Truffaut

(um dos cartazes de cinema mais lindos, ever)


No post abaixo eu disse que François Truffaut era o mais cômico da Nouvelle Vague e esqueci de acrescentar ser ele também o mais romântico. O diretor estendeu a história de Antoine Doinel em 4 filmes (3 longas e 1 curta) que tentam resolver a vida amorosa do personagem. Em "A Mulher do Lado", intenso filme sobre relações amorosas, Truffaut criou a que pra mim é uma das mais belas sequências do cinema (ele entre as coxas dela, o cheiro de pólvora e o batom vermelho, no fim do filme).

Nascido do romance semi-autobiográfico de Henri-Pierre Roché, Jules e Jim começou em 1955 quando Truffaut era crítico de cinema. Ele leu esse romance e ficou fascinado, até seis anos mais tarde filmar o que seria um manual da nova linguagem cinematográfica.

Jules e Jim é um clássico absoluto; seja por seus manejos inventivos de fade out e cenas pausadas, seja pela narrativa ligeira e suave ou pelos diálogos perfeitos que junto à narração em off nos conta a história da amizade entre dois aspirantes a escritores: o tímido austríaco Jules e o francês boa vida Jim. Ambos se apaixonam pela mesma garota, a impetuosa e imprevisível Catherine. Creio que seja uma dolorosa revelação sobre os efeitos do tempo em uma relação. O amor tão difícil de explicar, por vezes rotulado de louco por quem vê de fora.

É um filme tão importante para a história do cinema que influenciou e inspirou o que pôde e o que não pôde desde seu lançamento, de nome de banda e recriação de cena em clipe musical a letra de famosas canções e episódios de séries da atualidade.

Do cast não há o que reclamar: Oskar Werner, Henri Serre e Jeanne Moreau irrepreensíveis em seus encantadores personagens. É interessante quando um personagem beira o icônico, como Catherine, de vontades absurdas e personalidade instável, causando grande empatia no público que não sabe se presta atenção na narração rápida, no que acontece na tela entre o trio de amantes ou só em Catherine que rouba todas as cenas em que dá o ar da graça.

A música de Jules e Jim está entre as 10 melhores do cinema na lista "All Times 100 Movies" da Revista Time. Os acordes casam tão perfeitamente com o filme que vira tudo uma coisa só (aliás, Jules e Jim é isso, muita informação de uma vez só), impresso em fotografia romântica de Raoul Coutard (responsável pela boniteza visual de Pierrot Le Fou, de Godard).

Já achei quem diga o contrário. Aos 81 anos pesando nas costas, Roché assistiu e aprovou a adaptação na época do lançamento, o que só reforça a recomendação.

» Avaliação: 10.0

Um comentário:

Alberto Lopes disse...

adorei a resenha deste que é um dos melhores filmes já feitos, é impossível não ficar fascinado por ele... meus parabéns pelo texto, e quem ainda não viu, vale a pena conferir.
abraços.