O filme do arquiteto cearense Karin Aïnouz, estrelado por Hermila Guedes, atriz pernambucana de alto calibre que também fez outro excelente filme, Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes, conta com profunda tristeza a história de Hermila, uma garota que volta à cidade natal Iguatu, no Ceará, depois de ter tentado a vida em São Paulo com o namorado. Ele não volta, a abandona com um filho de colo, no calor escaldante de Iguatu, morando de favor na casa da avó e da tia. Seu refrigério são os braços de João, perdidamente apaixonado.
Tendo que se virar pra conseguir dinheiro, ela vende rifa e lava carro. A sensação de abandono não a deixa ser completamente feliz, nem João a faz esquecer isso. Em uma das cenas o filme nos mostra Hermila na beira da estrada procurando o brinco que perdeu enquanto andava de moto com João a caminho do motel. Ela o faz parar para procurar o objeto estapafúrdio perdido, demonstrando que não aceita fácil perder o que lhe pertence.
É lindo ver o leque de opções simbólicas disponíveis para entender o título que foi escolhido dias antes da estréia. É linda a cena que João vai atrás de Hermila para entender seu desprezo a ele. É extraordinário ver como o diretor conseguiu pontuar tão bem os acontecimentos chaves em um filme tão linear, de forma que o tom não mudasse (e a fotografia de Walter Carvalho só embeleza tudo). É lindo o filme inteiro, cada fotograma.
Premiadíssimo (melhor filme, diretor e atriz no Festival do Rio 2006), O Céu de Suely é um dos melhores filmes nacionais da década, representante da fase intimista de dramas particulares e/ou sociais no cinema nacional que nos últimos... sei lá, 2 anos, tem feito falta.
Como diz Jorge Furtado: "Quem diz que não gosta de cinema brasileiro tá falando besteira". O filme de Karin Aïnouz explica o por quê.
» Avaliação: 9.0
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