
Nos anos 50 quando ainda escrevia para o Cahiers du Cinéma, Truffaut descobriu Alfred Hitchcock e se apaixonou pela poesia de suas imagens. Esse deslumbramento pelo mestre do suspense se estendeu aos demais fundadores da Nouvelle Vague. Truffaut seguiu a trilha dramática com seus personagens sentimentalmente perturbados até chegar em seu último filme (morreu em 84), uma de suas obras primas: De Repente, Num Domingo; inspirada nos filmes de Hitch e no noir que reinou nas décadas de 40 e 50.
Particularmente nunca fui chegado em noirs hollywoodianos e acho chato essa coisa de caça ao assassino. Adoro Hitchcock por deslocar a motivação do gênero para um segundo plano, de forma que o mais importante está em desenvolver seus personagens e manipular o espactador com o clima de supense. Não por acaso, na minha opinião o melhor Hicthcock é o sobrenatural "Os Pássaros". Meu noir preferido é "Pacto de Sangue", dirigido por Billy Wilder. Na trama, o assassino é revelado no início, me poupando da brincadeirinha de gato e rato.
Confesso que morri de rir com De Repente, Num Domingo, de forma a não me preocupar com a resolução do crime. Diálogos espertos e hilários, aliados a uma mise-en-scène exemplar de Truffaut é o que chamamos de paródia, mas uma paródia digna que narra a história do imobiliário Julien Vercel, acusado de matar o suposto amante de sua mulher. Jurando de pés juntos inocente, acaba por fugir da polícia para juntar evidências de sua suposta inocência. O curioso é que a protagonista é sua secretária Barbara Becker (Fanny Ardant, cacho do cineasta na época) que abre o filme numa sequência de rachar o bico. Ela se compadece do chefe e parte em busca das evidências, enquanto Julien se refugia da polícia na agência. Uma coisa única esse filme, de fotografia preto e branco em plena década de 80, fidelíssima à estética noir.
Enfim, um programão inteligente com ares de paródia sacana. E se for difícil achar em uma locadora próxima, o canal aberto Futura reprisa Vivement Dimanche! (Finalmente, Domingo! numa tradução mais livre) desde o ano da França no Brasil, onde homenageou o cineasta com a exibição de algumas de suas obras.


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