terça-feira, 27 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Resenha: Monika e o Desejo (1952) Ingmar Bergman
Grande prazer da minha vida é contemplar um filme de Ingmar Bergman. Não pisou e nunca pisará na Terra diretor mais formidável. Jamais. Acho que poderia morrer feliz nesse momento, aqui, escrevendo sobre Bergman e ouvindo Ella Fitzgerald.
Considero Monika e o Desejo (no original é Um Verão Com Monika) uma versão pessimista e amarga de "Juventude", filme anterior do diretor com a mesma temática. Em Juventude, seu filme mais bonito, o gênio sueco conta a história de uma bailarina que retorna às suas memórias e visita o melhor verão de sua vida passado ao lado de seu amor perdido. Em Monika e o Desejo, Bergman só tinha uma idéia e algumas páginas de um roteiro que contava a bela história de um casal formado por dois jovens num verão na Suécia. Ela, Monika, é impetuosa como o mar, de fases como a lua e a sexualidade em pessoa. Monika é o destino frágil de Harry, enquanto Harry é o amor de verão de Monika. A paixão cresce e floresce, mas a inconsequência típica da mocidade os leva a um rumo opressor e é aí que entra o famoso pessimismo de Bergman, transformando seu filme em algo diferente de tudo o que já vi. O verão acaba, e com ele, o amor. É triste, mas é assim que a banda toca com a arredia Monika.
Considerado pelo próprio diretor um de seus mais simples e preferidos filmes (quanta modéstia), a película pode ser considerada absolutamente vanguardista e polêmica até os dias de hoje. Quanta beleza Bergman imprimiu através da fotografia em preto e branco de Gunnar Fischer, produzida nos anos 50, sua fase mais romântica e masoquista dedicada a juventude e suas relações amorosas (logo depois veio o amargo e brilhante Noites de Circo), que foi substituída por uma fase radical na década seguinte, quando filmou o espetacular "Persona" e a trilogia do silêncio. Todos os superlativos são poucos para descrever o gênio e suas obras.
Godard, fã do diretor afirma que Monika e o Desejo é um precursor de "...E Deus Criou a Mulher" de Roger Vadim, contudo prefiro discordar. Primeiro que não há semelhanças roteirísticas entre eles e segundo que o filme de Vadim é por demais vulgar por Brigitte Bardot (não que seja ruim).
Falar dessa pérola e não comentar seu final é fingir que não aconteceu, mas ele está lá e é duro de engolir, pra não dizer injusto e me atrever a contestar a vontade do mestre. No fim, só resta a memória, fazendo-me lembrar de uma frase de minha adolescência: "o que é bom dura o tempo necessário para ser inesquecível."
» Avaliação: 8.0
terça-feira, 13 de julho de 2010
Resenha: Mat Kearney (2009) City of Black & White
City of Black and White é disco do americano Mat Kearney, primo pobre do John Mayer. Pra se ter uma idéia, City of Black and White é de uma qualidade tão absurda que salta aos olhos na discografia (não que os antigos sejam ruins) do cantor e compositor que arrancou suspiros da crítica que teve o privilégio ouví-lo, aliás um disco tão perfeitinho que enfeitiça logo nas 4 primeiras canções e uma grande razão pra isso é a versatilidade de Mat: "Bem, aqui vamos nós para ele, três anos depois. Você vai me ajudar a sonhar tudo de novo? Cansado da mesma música que todo mundo está cantando."
Se o disco não imprime novidade, o vocal de Kearney (em momentos, tenho a imprenssão que estou ouvindo Chris Martin) é límpido e de bom gosto, somados aos teclados suaves e guitarras acentuadas. Na maioria das vezes sobre o amor, mesmo que a palavra não apareça, suas melodias são capazes de mudar o dia mostrando o que é um disco pop de verdade. Pra deixar John Mayer com vergonha, sem exagero.
Se o disco não imprime novidade, o vocal de Kearney (em momentos, tenho a imprenssão que estou ouvindo Chris Martin) é límpido e de bom gosto, somados aos teclados suaves e guitarras acentuadas. Na maioria das vezes sobre o amor, mesmo que a palavra não apareça, suas melodias são capazes de mudar o dia mostrando o que é um disco pop de verdade. Pra deixar John Mayer com vergonha, sem exagero.
» Avaliação: 10.0
sábado, 10 de julho de 2010
Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010) Matthew Voughn
Matthew Vaughn deixou a modéstia de lado (o pouco que lhe restava) para filmar com os próprios custos o melhor filme de super-heróis desde Spider-Man (tem The Dark Knight também, mas é reinvenção, não conta). Sim, porque Wacthman foi uma lástima e apesar de Iron-Man ter sido uma grata surpresa da Marvel, Kick-Ass é ousado e arrojado, mas não se anime, nunca inventivo.
Depois de ser rejeitado pelos estúdios (tenho minhas desconfianças que isso é puro marketing), Matthew financiou o próprio grandioso projeto baseado na obra de Mark Millar que se tornou a sensação em terras estrangeiras. No Brasil, não foi a mesma coisa, talvez porque a platéia tupiniquim não se espanta com palavrões ou cenas bizarras. Violência choca gringo, que não sabe sambar e acredita em seus heroís, o que tira um pouco o brilho do filme que tenta ser sério antes hora, moldando heróis que seu argumento desmente.
Dave é mais um no mundo, como o próprio se descreve em narração off. Seus dois únicos amigos, Marty e Todd, idem. Nerds virgens que vivem por falta de opção e levam a vida devorando gibis. Um dia, Dave dá a louca e resolve ser heroí, assim, do nada. Compra uma fantasia na internet, vai à luta e apanha, claro, já que não vivemos em um universo paralelo. Ele se auto denomina Kick-Ass. Tudo vai bem, até que as coisas começam a ganhar contornos mais sérios e o filme quase afunda. Nicholas Cage, firme no propósito de aumentar sua coleção, encara mais um papel babaca e Christopher Mintz-Plasse um personagem indigetso (Red Mist), mas necessário para a amarração do roteiro. Perdoado.
Kick-Ass, o personagem, caminha sem ascenção na trama. Se apaixona, claro, por uma garota que acha que ele é gay (a música tema é do Mika!) e Matthew Voughn, sacana que só ele, faz o personagem entrar na dança. As referências a heróis do passado são inteligentes e a coisa começa a melhorar até que aparece Hit Girl, a única coisa chocante do filme (sem ela, Kick-Ass não existiria). Uma garotinha de aproximadamente 11 anos que quebra tudo, solta uma porrada de palavrões e desafia a gravidade. Começa a diversão que é interrompida vez ou outra por suas falhas até chegar em seus 40 maravilhosos minutos finais que impressionam pela capacidade de salvar tudo. As convicções sobre o que foi assistido até alí começam a mudar e somos embrulhados pela trilha genial e irônica do trio Ilan Eshkeri, Henry Jackman e John Murphy (excelente trabalho, não me canso de elogiar).
Kick-Ass é um filme de caráter irreprochável e honesto que comete erros bobos, perdoáveis. Cenas de ação carregadas do que chamam hoje em dia de anarquismo e uma mistura estética de filme B e graphic novel (o tom está corrretíssimo). Puro entretenimento que contém uma mensagem linda sobre responsabilidade (ajoelhou, tem que rezar) e depois de um final tão bom, acho que uma revisão discipa os tropeços.
Depois de ser rejeitado pelos estúdios (tenho minhas desconfianças que isso é puro marketing), Matthew financiou o próprio grandioso projeto baseado na obra de Mark Millar que se tornou a sensação em terras estrangeiras. No Brasil, não foi a mesma coisa, talvez porque a platéia tupiniquim não se espanta com palavrões ou cenas bizarras. Violência choca gringo, que não sabe sambar e acredita em seus heroís, o que tira um pouco o brilho do filme que tenta ser sério antes hora, moldando heróis que seu argumento desmente.
Dave é mais um no mundo, como o próprio se descreve em narração off. Seus dois únicos amigos, Marty e Todd, idem. Nerds virgens que vivem por falta de opção e levam a vida devorando gibis. Um dia, Dave dá a louca e resolve ser heroí, assim, do nada. Compra uma fantasia na internet, vai à luta e apanha, claro, já que não vivemos em um universo paralelo. Ele se auto denomina Kick-Ass. Tudo vai bem, até que as coisas começam a ganhar contornos mais sérios e o filme quase afunda. Nicholas Cage, firme no propósito de aumentar sua coleção, encara mais um papel babaca e Christopher Mintz-Plasse um personagem indigetso (Red Mist), mas necessário para a amarração do roteiro. Perdoado.
Kick-Ass, o personagem, caminha sem ascenção na trama. Se apaixona, claro, por uma garota que acha que ele é gay (a música tema é do Mika!) e Matthew Voughn, sacana que só ele, faz o personagem entrar na dança. As referências a heróis do passado são inteligentes e a coisa começa a melhorar até que aparece Hit Girl, a única coisa chocante do filme (sem ela, Kick-Ass não existiria). Uma garotinha de aproximadamente 11 anos que quebra tudo, solta uma porrada de palavrões e desafia a gravidade. Começa a diversão que é interrompida vez ou outra por suas falhas até chegar em seus 40 maravilhosos minutos finais que impressionam pela capacidade de salvar tudo. As convicções sobre o que foi assistido até alí começam a mudar e somos embrulhados pela trilha genial e irônica do trio Ilan Eshkeri, Henry Jackman e John Murphy (excelente trabalho, não me canso de elogiar).
Kick-Ass é um filme de caráter irreprochável e honesto que comete erros bobos, perdoáveis. Cenas de ação carregadas do que chamam hoje em dia de anarquismo e uma mistura estética de filme B e graphic novel (o tom está corrretíssimo). Puro entretenimento que contém uma mensagem linda sobre responsabilidade (ajoelhou, tem que rezar) e depois de um final tão bom, acho que uma revisão discipa os tropeços.
» Avaliação: 8.0
sábado, 3 de julho de 2010
Resenha: Ondine (2009) Neil Jordan
Vez ou outra, o diretor Neil Jordan é atacado pela crítica quando engata em um filme comercial. É bem verdade que ele é um diretor intimista que se perde ao tentar vôos mais altos, mas seus filmes comerciais têm o que falta em uma porrada de grandes produções: honestidade. Meu filme preferido do diretor, ironicamente foi o último a que assisti, The Crying Games, e eu até tenho certo carinho por algumas de suas obras esculachadas como Lance de Sorte e Entrevista Com o Vampiro.
Valente, o trabalho anterior, é sua grande bola fora e Ondine veio para corrigir isso. Ao narrar a história de um pescador (Syracuse, Colin Farrel) que pesca uma mulher misteriosa e acaba por acreditar ela ser fruto de sua imaginação, Jordan alcança remição. A filha do protagonista, que sofre de insuficiência renal, acredita que a moça é uma Selkie; criatura aquática meio foca, meio mulher; que é fruto da mitologia irlandesa/escocesa. A vida do cara dá uma sacudida, vida essa nada fácil como de costume nos personagens de Jordan. Essa novidade ao mesmo tempo que lhe traz um renovo, lhe embaralha as idéias. Há 2 anos está longe do alcoolismo, ainda tem que aturar um passado de perdas sofridas.
Mais uma vez a paixão do diretor pela água fala mais alto. Muita água permeia o longa com ares de contos de fada (deixa A Dama na Água de Shyamalan no chinelo). Há citações interessantes de A Branca de Neve e Alice no País das Maravilhas, fazendo tudo se intrincar. Rodado nas paisagens estonteantes e frias da Irlanda (fotografia colírio de Christopher Doyle), terra natal de Jordan, o roteiro escrito por ele próprio se perde um pouco na dissolução do mistério no fim do filme, mas nada que apague o brilho do mesmo.
Assim como no balé de três atos do The Royal Ballet; Ondine, o filme; anda lado a lado com a trilha sonora. Quando Frederick Ashton adaptou o conto mitológico para a dança, em 1958 chamou Hans Werner que compôs uma trilha que é considerada moderna até hoje. Neil Jordan chamou Kjartan Sveinsson e o resultado é plenamente satisfatório. Achei fantástica. Tanto o balé quanto o filme são inspirados no romance "Undine" de Friedrich de La Motte Fouqué. E como não se pode deixar de elogiar as irretocáveis perfomances de todo o elenco, Colin Farrel, que não fica bem de cabelos grandes, foi a escolha certa, com seu sotaque carregadíssimo, para transformar este filme em uma boa surpresa.
No fim, depois de citações literárias de contos fadas, simbologias, muita água e mistério, tem-se o toque de Jordan, que soa brilhante, mas furado (eu escolhi engolir seco). O filme ainda não estreou no Brasil e a Imagem filmes não tem data prevista.
» Avaliação: 8.0
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